Arquivo da tag: Vietnan in Rio

Em tempos de discussão sobre feminismo, veio do Vietnã a minha inspiração olímpica

Hoje foi dia de ter um daqueles flashes de memória, enquanto se está no banco de trás do carro. Lembrei do meu querido comitê do Vietnã. Nesses tempos de discussão sobre feminismo, era Ms. Bich Van que vinha na minha mente como referência na Ásia.

Primeiro, porque ela era a única no meio de todos os homens executivos do Comitê. Segundo, porque se posicionava quando era preciso. Respeitando sua essência. Ela falava baixinho por natureza. Mas, fazia-se ouvir sem levantar o tom de voz. Talvez, ela nem saiba que é feminista. Sei lá.

Vietnan 5

Olha lá ela no meio da mesa diretora. Como na China, o comunismo deixou a herança de ter os dois gêneros trabalhando como algo normal.

Ela chegou para a fatídica DRM (Delegation Registration Meeting – Reunião de Registro das Delegações, quando formalizamos a delegação de cada país antes de autorizar a entrada na Vila) com a pele linda, mesmo após horas de voo. Como a reunião terminou tarde, dormiu no prédio provisório. Poderia entrar apenas com alguns pertencentes. Não abriu mão de levar os cremes faciais. Essas mulheres asiáticas…

Vietna2

Sem cremes de rosto? Nunca! 

Mas, voltando ao que interessa. Ela resolvia tudo. De recepção de Ministro no Aeroporto (dando seu toque feminino com rosas vermelhas para as boas-vindas) a problemas operacionais.

Um belo dia, ela foi ao aeroporto buscar atletas. Voltou estarrecida. O motorista se perdeu e entrou “num lugar onde homens carregavam fuzis”. Não preciso dizer que gelei. Sim, ela passou por uma das favelas do Rio. Por ter sido próximo ao aeroporto do Galeão, suspeito ser a Favela da Maré, nada pacificada. Amém, havia dois voluntários extraordinários com o Vietnã. Um colombiano e um argentino. Os rapazes entenderam o que havia acontecido, não criaram pânico na moça e trataram de selecionar dois motoristas com inglês para ficar de prontidão.

Um belo dia, recebo uma ligação dos responsáveis pelos voluntários. Uma das moças não queria mais ser a assistente do Presidente do Comitê (A grande maioria se hospedava fora da Vila). Ele, um senhor sempre muito simpático, havia dito que ela precisava de um regime. Tentei argumentar que isso é um “quebra-gelo” à asiática. Se ela soubesse as vezes que escutei isso na China…

Não teve jeito.

Lá fui eu dar a notícia a Ms. Bich Van. Encontrei-a recebendo uma boa massagem nas costas. Afinal, ninguém é de ferro.

Com aquele jeito asiático de receber, sentou na sala, serviu-me um chá. Receitou-me Tiger Balm (a cânfora deles) na garganta para melhorar a voz. Eu, constrangida por trazer más notícias. Especialmente, sobre o presidente, figura célebre no País e chefe dela.

A reação?

– Que coisa chata. Como se diz que uma mulher está fora de forma. Bem feito. Vai ficar sem assistente.

Ponto para Ms. Bich Van!

O Vietnã ganhou a primeira medalha de ouro no Tiro. Eram incríveis com os voluntários. Um dia, cheguei e o Chefe de Missão estava comendo paçoca com eles e discutindo se parecia com o doce tradicional deles.

Aliás, café Vietnamita é uma bomba de cafeína deliciosa. É gelado. Uma xícara e você fica ligadão. Juro.

No final, convidaram-me para um almoço divertidíssimo numa Churrascaria. Eu, executivos, voluntários e motoristas. Todo mundo junto para se despedir deles. E foram tão legais que, não foi à toa, o argentino e o colombiano foram bater lá para visita-los e hoje moram na Ásia.

Vietna

Farra merecida após uma campanha de sucesso no Rio 2016

Daquelas propagandas que a gente faz do próprio país e não tem preço.

Aliás, passei a postar em Inglês no Facebook a pedido dela.

– Gostaria de interagir mais com você. Mas, não sei lê Português.

Como não atender a um pedido desses?

Deixe um comentário

Arquivado em Blogueira Olímpica, Sem-categoria